Encontro de Agentes Pastorais das Comunidades de Língua Portuguesa na Europa

Encontro de Agentes Pastorais das Comunidades de Língua Portuguesa na Europa

Encontro de Agentes Pastorais das Comunidades de Língua Portuguesa na Europa

Augsburg, 28 de novembro a 2 de dezembro de 2022 – A cidade de Augsburg, na Alemanha, acolheu o Encontro de Agentes Pastorais da Diáspora de Língua Portuguesa na Europa, ao redor do tema “Interculturalidade: Orientações Pastorais e Perspectivas de Futuro“. Participaram 45 agentes pastorais (sacerdotes, diáconos, religiosas e leigos), de nacionalidade portuguesa, brasileira, angolana, neerlandesa e moçambicana que acompanham as comunidades lusófonas na Alemanha, Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo, Portugal e Suíça. Numa das celebrações eucarísticas, os participantes evocaram com gratidão a memória de D. Daniel Batalha Henriques, bispo responsável pela pastoral das migrações em Portugal, recentemente falecido. 

O Encontro, integrado na celebração jubilar do 60º aniversário da Obra Católica Portuguesa das Migrações, foi organizado por este departamento da Conferência Episcopal Portuguesa, com o apoio das Delegações da Alemanha e Suíça. Contou com as presenças institucionais do Dicastério da Santa Sé para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Dr. Mário Almeida, da coordenação para África), e do Serviço Nacional da Pastoral das Migrações da Conferência Episcopal da Alemanha (Dr. Lucas Schreiber, diretor nacional). 

Algumas das constatações retiradas do Encontro: 

– A Igreja na Europa, nesta última década, vive um processo generalizado, complexo e difícil de reestruturação das estruturas diocesanas e dos recursos humanos e financeiros à disposição. A Igreja é uma comunidade em grande mutação cultural devido à galopante secularização pós-moderna, às mudanças políticas na UE e à situação económica provocada pelas várias crises: migratória, pandémica e energética. 

– A presença crescente e sempre mais organizada de comunidades migrantes com seus agentes pastorais, no seio das várias dioceses na Europa, é desafio a uma “Nova Catolicidade” (Robert Schreiter, teólogo católico). É uma presença inevitável e decisiva para o futuro da Igreja num continente em busca de identidade, política migratória e ação política comuns. 

– A Secção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, presidida pelo Papa Francisco, tem mantido desde 2017 uma metodologia sinodal de serviço às igrejas particulares mediante consultas locais e atualização das Orientações Pastorais (quanto aos Pactos Globais sobre Migrantes e sobre Refugiados, Tráfico de Pessoas, Deslocados Internos, Pessoas deslocadas pela Crise Climática e Pastoral Migratória Intercultural) que carecem de divulgação e aplicação concreta pelas Igrejas na Europa. 

Salientam-se as seguintes conclusões deste Encontro: 

  1. Numa Europa com uma mobilidade humana marcada pela diversidade de religiões e culturas, diferenciação de itinerários migratórios e crescente nacionalismo que estigmatiza os mais vulneráveis, comprometemos-nos em estudar mais o fenómeno migratório e em divulgar narrativas positivas de vida, boas práticas de “Cultura de Encontro” para vencer o medo, preconceito, indiferença e violência contra migrantes e refugiados. 
  2. Como pessoas de fé e caridade, reconhecemos nas migrações uma benção, uma dádiva de Deus para a unidade da família humana, como profetizou o bispo santo dos migrantes, João B. Scalabrini, recentemente canonizado pelo Papa. A mobilidade humana é uma ocasião providencial para a revitalização da vida eclesial e missão da Igreja no mundo. Os migrantes são artífices de novas relações à luz da Teologia da Comunhão, e agentes de renovação, diante da urgência de uma nova pastoral vocacional. Na Europa, não haverá futuro para uma Igreja ministerial e sinodal sem os migrantes! 
  3. Nós, de diferentes proveniências, assumimos sensibilizar-nos a nós próprios e aos migrantes que servimos, em nome do Evangelho, em relação às pessoas que mais sofrem a “tragédia” do processo migratório: os naufrágos no Mediterrâneo e no Canal da Mancha, os violentados nas fronteiras da rota balcânica, as mulheres e homens traficados e explorados na agricultura e trabalho doméstico, as famílias refugiadas de guerra na Europa… entre outros. 
  4. Queremos prosseguir na corresponsabilização dos migrantes na resposta aos desafios e conflitos com que se deparam atualmente as dioceses, a nível das reestruturações geográfica e jurídica (novas paróquias) e dos recursos financeiros para uma vida eclesial sustentável. Na perspectiva de uma participação mais representativa e consciente na vida social e eclesial, comprometemo-nos: a formar lideranças cristãs; a favorecer a presença de migrantes nos conselhos pastorais paroquiais e diocesanos, nos conselhos económicos paroquiais, no conselho nacional de estrangeiros e nas associações da Sociedade Civil. 
  5. O Evangelho de Cristo inspira-nos a prosseguir a ação pastoral, não apenas entre nós Comunidades da Diáspora Lusófona, mas também com outras Congregações Missionárias e Organizações Não Governamentais, com vista à partilha de experiências espirituais, troca de boas práticas de interculturalidade e análise do processo migratório sempre mais marcado por tensões entre povos, comunidades e grupos políticos. 
  6. A Igreja, pela sua experiência universal e específico magistério para a Mobilidade Humana, desafia-nos a ser: modesta e humilde presença em situação de minoria, eficaz e desafiante laboratório de interculturalidade, atelier de coesão, amizade e paz social para a sociedade, conscientes de ser “fermento” e “semente” de nova Terra e novo Céu.

(adaptado do Comunicado Final)